quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Narrativa Excerto "UP"


Podia ser só mais uma história de amor fantasiado. No entanto, esta história, sumariamente contada por um excerto, diferencia-se pela narração de toda uma vida conjunta de um casal, ao passo que outras optam, legitimamente, pela intensidade de um momento.

Casaram-se. Os pais dele exultaram, os dela aplaudiram, timidamente. Como é hábito em recém-casados, compraram uma casa à qual se dirigiram logo após a celebração do matrimónioContudo, o estado da moradia não era o mais condizente com a irradiação de luz emanada pelo belo casal. Mãos à obra, suor nas vestes matrimoniais e num instante o belo lar de Carl e Ellie estava pronto, no ponto e conforme os conformes do complexo projecto! Fundações feitas, amor consolidado, estava na hora do herdeiro que sucederia ao amor como o factor determinante da vida de Carl e Ellie. Engalanaram a corte, mas o principezinho nunca chegou, rumores dizem que foi raptado pela maléfica Infertilidade.
Foi então que o amor de Carl e Ellie voltou a assumir o papel principal. O sonho do amor deles era viver num castelo, bem alto, em Paradise Falls. De centavo a centavo, iam alimentando um porquinho. Foram vários, mas nenhum foi sacrificado por o objectivo capital. Ora o pneu furado, ora o pé fracturado, ora o lar estragado, e o amor simples e mundano ia comendo o porquinho.

Gravata após gravata, os cabelos esbranquiçavam e o romance ganhava cor. A cor do antigo, do sentido e a cor de quem já não conseguia viver sem o seu par. Antes do baile terminar, Paradise Falls foi ressuscitado. Carl comprou as passagens e preparou a surpresa com a doçura de um piquenique num planalto. Funestamente, o planalto era tão, tão alto, que Ellie nunca conseguiu subi-lo. Os médicos não lhe deram muita esperança mas Carl deu-lhe um balão. Com ela morreu o seu livro das grandes aventuras não vividas, porém, a sua maior aventura foi viver ao lado de Carl. Ele foi para casa, ela para o céu mas continuaram a viver felizes para sempre.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


“(...)
- Dá-me um beijo.
- Só um beijinho.”

A noite cerrara e, mais uma vez, cada um foi para sua casa. Ele testava loucamente as inatas capacidades do cérebro humano a tentar percebê-la, enquanto que ela… Gostava ele de saber!
Após chegar a casa, Vicente tomou banho e jantou sempre com a bela jovem no horizonte do pensamento. Fora sempre um típico “engatatão”, que com a mais subtil classe ia conseguindo tudo aquilo que desejava no trépido mundo feminino. Contudo, precisamente devido à postura arrogante de “macho latino”, desabafar era algo que não concebia como plausível. Coisa de gaja, certamente.
Perante esta adversidade ao desabafo, pensou em por no papel as palavras que o coração sentia:
“Não sei se te amo, provavelmente não. O que sinto por ti não é normal mas para já isso não me inquieta. Inquieta-me o que posso vir a sentir. Já sabia que a altura para conhecer alguém por quem me consiga realmente apaixonar tinha de estar perto. Será que é agora?
Preciso ao meu lado alguém que lime estas arestas bicudas do meu ser. Alguém que me ame por tudo o que sou e que podemos vir a ser, juntos.
Podes ser tu, eu deixo. Preciso dessa diferença que os meus olhos cobiçam. A diferença é tão clara nos teus! Quando te ris, o meu coração sossega, naqueles instantes o Mundo pára, o rio congela e só eu e tu interessa. Tudo o que ainda não tivemos foi lindo. Eu não te amo, sei. Imagino-me contigo, mas não te percebo. E quero-te tanto. Começo a acreditar que és droga em forma humana, com olhos lindos. Vicias”

Depois disto, nada havia a fazer, estava escrito. Suspirou tremulamente. Ele pensara que não estava apaixonado. O futuro, esse blasfemo, estava nas mãos de Diana, ele apenas não sabia.

Vicente estava fodido. Não estava triste nem rancoroso. Estava fodido por não perceber o que ela queria e por a sua manipulação, sempre tão eficaz perante o sexo oposto, não estivesse a surtir efeito com Diana. Mas uma boa foda vicia, e ele estava viciado nela.