O tempo cura tudo, mas até o
tempo leva tempo. Todos os dias vira-se uma página de um livro que parece não
ter fim, mas que tem. É só um calhamaço espinhoso, repleto de
palavrões, que ora são insultos, ora foram elogios e que, para a vida toda, friso,
para a vida toda serão, dolorosamente, apenas memórias. E se a teoria dos
românticos crentes na vida depois da morte estiver certa, elas perdurarão
infinitamente no tempo.
Não há dias fáceis, há dias menos
difíceis. Há dias em que a saudade se acerca com uma força desmesurada. Tentar
nunca deixou de ser uma opção, mas há tentações que nos beijam em vão. E sei-lo
desde o principio do fim que as tentações se tornariam maiores, mais fortes,
mais persistentes, porém, inúteis.
Dizem que desistir de tentar –
dois conceitos tão antagónicos – é o medo de falhar, mas há falhar e ser
falhado. Há razão e percepção. E queria muito, não há nada que neste momento quisesse mais, se não lutar. Ir à luta e lutar, não por aquilo que me
pertence, mas por a quem eu pertenço. Com muita pena, o abismo mora ao fundo da
rua e não há tristeza maior em saber que essa rua só se percorre a descer.
Há duas coisas que me irritam nos
filmes de domingo à tarde. Os finais felizes, porque deturpam a realidade, e aquele
vai-não-vai de escada a meio das histórias em que há sempre alguma coisa a comprometer o
amor das personagens principais. Invariavelmente acabam juntos, mas em certa altura vão estar separados, mesmo que a sua paixão perdure. Durante muito tempo pensei
que fosse mais um ingrediente necessário à trama para prender as pessoas no
cinema. Hoje, ao contrário dos finais felizes, sei que pode acontecer.
A razão para a saudade, palavra
tão-só portuguesa pela depressão associada, também se perde no meios de tantos
pensamentos desconexos. Será apenas a saudade de um tempo que já passou ou é saudade de
quem nos faz ter saudade desse tempo? Em todo o caso, será o tempo, esse desgraçado, que vai matar
e reduzir a memórias a paixão mais intensa que já se viveu. A nossa.