Houve em tempos quem cantasse o amor como o fogo que arde e
que não se vê. Intenso e profundo, sem pedir licença ao Mundo. É a catástrofe
shakespeariana quando o amor não é amor, e o fogo queima de fora para dentro,
reduzindo a cinzas tudo aquilo que o propaga. Não se ama, procrastina-se o
desejo. É a certeza do que não se quer e do que se pretende ter - tão pouco e
tão tudo - mas a incerteza do que se tem. E é o silêncio imputado que mais fere
o coração que o corpo deu voz, para sentir tudo aquilo que foi e provavelmente
nunca mais será. Floresce o desejo mas desama-se aos olhos de quem pouco sente.
É o desejo de quem não pode ter, a vontade de tocar onde não
se pode. Afinal ainda há crianças em todos nós. Pobres crianças que não sabem a
dificuldade de amar, de querer, ter, e mesmo assim chorar. Que seja Desamor.