segunda-feira, 30 de março de 2015

Devíamos ser todos Mujica!


Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Foi a chapinhar os pés em água a ferver que José “Pepe” Mujica, ex-presidente Uruguaio, idealizou a problemática da legalização das drogas leves.

Mujica explicou em várias entrevistas que deu não considerar o consumo de drogas, ainda que leves, a situação ideal. Porém, pior que um vício como tantos outros que auferem o título da legalidade, é o narcotráfico e as situações conseguintes deste flagelo. Já pararam para imaginar quantas redes criminosas subsistem com a venda de drogas?

Introduzindo um estrangeirismo, a legalização dos canabinóides em Portugal seria uma win-win situation. Não era óptimo se o nosso governo ganhasse 23% cada vez que drogas eram vendidas? Não era óptimo pedir gentilmente umas pequenas contribuições autárquicas a quem abrisse uma coffee shop? Não era óptimo que essa pessoa precisasse de mil e um trâmites legais para abrir a dita coffee shop? Já para não falar das oportunidades que a ASAE teria para multar por incumprimentos das mais variadas ordens. Isto só para ti, Estado.

Para as pessoas, essas miseráveis e asquerosas criaturas, só garantia a qualidade do produto para quem consome, só aliviava a dor de pessoas com doenças terminais, só divertia pessoas com mais de 18 anos, responsáveis pelos seus actos ou só providenciava uma absurda diferença de segurança no momento da compra.

Isto tudo com calma, nada de bares abertos. Para legalizar não significar o incremento do consumo, tal como no Uruguai as vendas seriam obviamente controladas e limitadas. Acho até que a legalização dissuadiria muitas pessoas, sobretudo jovens, de consumir. Não fosse “o fruto proibido o mais apetecido”.

Assim como Pepe Mujica, que não imagino a consumir drogas leves junto das suas galinhas aos 79 anos, também eu, estudante universitário aos 21, não o faço. Por incrível que pareça. É a opinião do pragmatismo, o abandono dos tradicionalismos.


Mais sobre Pepe Mujica em: https://palavrasaoposte.wordpress.com/2015/03/18/gracias-pepe-mujica/




quinta-feira, 5 de março de 2015

“Sr. Darwin, o seu bilhete por favor.”



É naturalmente conhecida por todos a fantástica história do “Capuchinho Vermelho e o Lobo Mau”. No entanto, nada da experiência que vos relatarei de seguida está relacionada com ela. Era só para provocar uma falsa sensação de familiarização com o tema.
A ocorrência deu-se esta tarde no comboio Intercidades quando avistei dois espécimes em tudo semelhantes a lontras, excepto no tamanho. Estas gozavam de um porte muito mais digno para exibição num zoológico. Até porque com estas dimensões, suponho eu, já não devem existir muitos exemplares e o nosso ecossistema necessita de todas as espécies para o seu bom funcionamento, até aquelas que ninguém lhes pega. Isto não pode ser só fait divers com coalas e pandas e as outras espécies que se lixem.
Fiquei tão impressionado com a exoticidade destas criaturas que até receei tocar. Chegar perto inclusive. A experiência tornou-se mais incrível quando notei que com elas transportavam um tapete, também ele grande. Primeiro pensei que fosse esse o seu modo de locomoção – dada a raridade da espécie não sabia o que esperar – mas após um exausto exercício mental cheguei à conclusão que nem o tapete do Aladino levantaria voo com todas aquelas arrobas de criatura em extinção. Entretanto, para mal dos meus pecados – e nem sou religioso –, as magnânimas espécies desceram do comboio, deixando-me visivelmente embaraçado, pois acabara de contactar a reserva do parque natural para um parecer mais profissional acerca do assunto e agora teria de voltar a fazê-lo, mas para dar conta da sua fuga e de como não fui capaz de evitá-la. Ainda a bordo, e apesar da opulência física, as criaturas mostraram-se animadas e portadoras de um sentido de humor apurado, exemplo que eram as suas intrépidas gargalhadas enquanto retraçavam empenhadamente um pacote de Doritos.
Bem, isto tudo para dizer que a natureza é uma coisa muito séria com a qual não se deve brincar. Antes pelo contrário, ser-se amigo, muito amigo!



terça-feira, 3 de março de 2015

Um Dia Bom


Imagina-te descansado a dormir, sonhando com uma invasão alienígena que extinguiria toda a espécie humana, e de repente o sol bate-te na cara e começas a ouvir um barulho ensurdecedor que faz lembrar um aspirador. Primeiro pensas que é o aproximar da arma apocalíptica, mas depois percebes que é a tua mãe que entrou pelo quarto a dentro, a aspirar. Naquele que era o teu dia de folga, depois daquela semana intensa de trabalho e que a única coisa planeada era ir à bola. Haverá melhor maneira de começar um dia? Duvido. E foi assim que começou o dia do sortudo Vítor. Alegou a mãe do próprio que um afazer nas finanças carecia da máxima celeridade. Acordou, tomou banho e a meio da lavagem acaba-se o gás. Nesse mesmo instante, com a pele engelhada e os dentes tilintando sai da banheira para atender o telemóvel. Era o chefe, afinal precisava dele porque a Olivia teve um esgotamento nervoso causado pelo enteado que vive lá em casa desde os 3 anos após o abandono dos pais e que aos 43 continua solteiro.
O S. Pedro não estava de bons modos e chorou a manhã inteira. Quando o Vítor estava a sair de casa, um carro passa a arrasar o passeio e jorra para o jovem uma quantidade considerável de água. A suficiente para fazê-lo regressar a casa e trocar a indumentária. Seguiu então depois para a repartição de finanças. Lesta como a conhecemos, aquando da iminente chamada da sua senha, está à sua frente um velho de 86 anos, que ouve mal, é rabugento e é o típico pergunta-tudo. Ao paciente funcionário público, até sobre o prato do dia na tasca do Salustiano indagou.
Depois da jornada à nobre repartição, dirige-se ao local de trabalho, onde é informado que afinal a Olivia preferiu ir trabalhar para evitar o enteado e que assim já não precisavam dele. Pediram desculpa por não ligar a avisar. Ao menos isso.
Já no metro, tímidos gases provocados pela feijoada à transmontana que almoçou na tasca do Salustiano porque ouviu o paciente funcionário público dizer ao velho rabugento que era esse o prato do dia e teve vontade de lá ir, iam assolando a carruagem de um aroma só agradável aos mais sádicos. Mal chegou a casa, também potenciado pelo efeito laxante do café que havia bebido, dirigiu-se imediatamente ao trono (Era assim que chamava a sanita). Tal era a pressa de expelir tão notável quantidade de merda, nem verificou a existência de papel. E não havia. Chamou pela mãe, no entanto a dócil progenitora havia saído para comprar um filtro novo para o aspirador. De calças descidas a meia-canela e nalgas o mais afastadas possível, caminhou cautelosamente até à dispensa, perto da porta de entrada, com pretensões de obter um novo rolo. Nisto, e inesperadamente, entra a irmã e o namorado em casa. Boa tarde pareceu-lhe a saudação mais indicada, e retornou à casa de banho, no mesmo quadro de miséria em que tinha saído dela, desta feita de rolo em punho, e terminou o que ainda não havia começado.
Quando o dia até lhe estava de feição, e se preparava para descansar no sofá, sobejamente bem acompanhado pelas “Tardes da Júlia”, eis que começa a ouvir gemidos de prazer provenientes do quarto da irmã. Pensou em fazer muita coisa, mas como nada é como nos filmes apenas pegou nas chaves de casa e saiu. Desceu a avenida e decide entrar no Starbucks. Dado o calor desgraçado que se fazia sentir, pediu um frappuccino de caramelo mas a Cristina “botinhas” da Escola Primária reconheceu-o e, para se vingar de todas as vezes em que o Vítor gozou com as suas botas ortopédicas, serviu-lhe um expresso bem amargo. Surpreendentemente, o Vítor nem se importou, já que a Cristina escreveu Vítor com ‘c’ e aludir a essa monstruosa patacoada na língua portuguesa era a descrição perfeita e deveras mais original para a foto que já havia pensado tirar ao copo para postar no instagram. Contudo, o talão não trazia a password de wi-fi e como era fim do mês, os dados móveis estavam esgotados. Decidiu então ir perguntar precisamente à Cristina pela password, isto porque ela agora até tinha umas boas mamas e o aparelho já era passado. Ela, obviamente, ávida de vingança, forneceu a password errada. O Vítor começou a juntar as peças do puzzle e rapidamente chegou à conclusão que a culpa era muito provavelmente daquele velho Sony Xperia que já tinha fazia um ano no mês que vinha. Deu o murro na mesa. Bateu punho. Pelo meio derramou o seu expresso, mas que se foda o expresso, ele ia comprar um Iphone! Lá foi. Já no estádio da Luz, tirou a sua primeira foto que serviu para atestar a qualidade do engenho. Após redimensionar no instasize, colocar o filtro, ajustar a luminosidade e o contraste, e postar no instagram com partilha no facebook o jogo já levava 8 minutos e o Artur ainda não tinha feito nenhuma asneira entre os postes. Ainda.
Infelizmente, o Benfica perdeu.
Chegado a casa, ao jantar, o pai pergunta-lhe:
- Então filho, como correu o teu dia?
- Nem foi mau, só tenho pena do Benfica ter perdido.
- Deixa lá filho, importa é ter saúde.