Gostava que o amor fosse música. Gostava
que o amor fosse uma partitura composta tão livremente assim o desejo do
compositor. Os músicos seríamos nós, os demasiado
inconscientes para compreender a ausência do livre-arbítrio. Tocaríamos o
alinhamento, exultaríamos alegrias, choraríamos tristezas. Sem o pesar de quem
apenas vive, com a soberania sobejamente reconhecida a um espectáculo de
marionetas.
A nossa música é diabólica, sem qualquer tipo de rigor ou criatividade, de vontade parca e qualidade duvidosa. A letra está incompleta, o ritmo indefinido e a história por acabar. Mal existimos. Espero e desespero por conhecer o género. A minha preferência é Rock ligeiro, tipicamente música de nicho em que o gostar é venerar, porém as probabilidades recaem sobre uma amorfa, exasperante e recorrente balada de amor. A verdade é que o amor catalisa a loucura e não há nada mais autêntico neste Mundo que a loucura perpetrada por aqueles que amam. Venha de lá então essa balada, afinal não é o amor que nos move? De que serve o dinheiro se não temos companhia para gastá-lo? De que serve a saúde sem alguém com quem partilhar a vida? Sei tão pouco sobre ti que nem faço ideia das quantidades que tens destas coisas. Mas gosto do teu sorriso. É autenticamente bonito. Faz-me sorrir.
Há muito que te espero, já pensei
que eras tu as vezes suficientes, mas a inexorabilidade do destino dita mais
uma espera. Espero que seja desta. Procuro-te vertiginosamente nos espaços
moribundos da libido feminina que me atraem tão rapidamente como me repudiam,
quero sair enquanto quero ficar, tudo é anti-matéria. Em pleno rodopio, fico
sem saber para onde ir, não te vejo. Nunca. A ansiedade aumenta. Mata-me e esfola-me,
revela as fraquezas, fode a cabeça e o coração vai atrás. Quero-te a ti. Não
sou de muitas, sou de ti. Não sou de muitas porque não posso, quero ser de ti
porque acredito no amor. É contigo que quero ser, sem a contenda entre a cabeça
e o coração, sem desejos que tanto têm de transitórios como de estéreis. Quero
preencher esta parte viciosa da vida, a melhor parte, a mais romântica mas a
mais luxuriosa, o amor e o desejo, nós e nós.
Quem és? Não sei, mas existes.
Quem és? Não sei, mas existes.